domingo, 16 de outubro de 2011

A manif

Ultimamente dou por mim a pensar de forma recorrente se este país merece a nossa indignação.
Ontem passei pela manif. Sim, teve que ser de passagem que a minha pequena princesa não conseguiu aguentar mais que 30 minutos de manifestação, mas ainda assim acho que lhe consegui passar a mensagem que pretendia, a mensagem de que é preciso marcar as nossas posições na vida e lutar por aquilo que achamos justo. 
Não estava muita gente, não foram discursos cativantes mas gostei de ver, tal como já tinha visto no Geração à Rasca, pessoas de todas as gerações. Nada aglutina tanto as pessoas como os sentimentos negativos.
Já no regresso a casa, pensei que realmente acho que o país não merece a nossa indignação. Porque realmente ao desejarmos o melhor para nós também estamos a desejar o melhor para a nossa pátria e, neste momento, pensando bem, de há muitos anos a esta parte, os governantes que temos, pensam em tudo menos no bem comum. Governantes esses que fomos "nós" que elegemos, o que me faz pensar em algo ainda mais profundo que é, se realmente merecemos governantes melhores.
Eu sei que estas medidas têm que ser tomadas. Que estamos no buraco e bla bla bla bla, mas custa-me a crer que não haja alguém que se erga e diga, Basta! As coisas não podem continuar assim. As pessoas vão morrer de fome, morrer escravas dos bancos, os nossos filhos não vão ter futuro, a nossa economia vai estagnar, e depois? Vamos viver do quê?
Existem estes movimentos, que tentam fazer algo mas não se faz realmente algo. Passa-se uma tarde na rua em vez de no jardim, pintam-se umas faixas com umas frases giras e inteligentes, cheias de trocadilhos, mas no concreto, espremendo tudo bem espremido, o resultado é zero.
Se por um lado sou completamente a favor de manifestações, tenho presente que por si só de pouco valem porque como dizia um filósofo de cujo nome não me recordo, "a ditadura diz não falas, a democracia diz bem podes falar" e ontem doeu-me ver os rostos que eram realmente de indignação, mas, principalmente de tristeza e sentir no ar um pensamento como uma nuvem a pairar, e agora, o que fazemos?
Sentia-se a descrença e a incerteza mas também um baixar de braços que só me deixa antever que dificilmente as coisas vão mudar. Neste momento o monstro é muito grande já e por muitos que sejamos, os seus tentáculos impedem-nos de lutar e muito mais preocupante, impedem-nos de sonhar com um futuro melhor.

domingo, 9 de outubro de 2011

Os amantes


O dedo risca a pele
sulcando um mapa imaginário
O caminho leva a um vale esquecido,
perdido,
encontrado pelo amante corsário.

A alma aquece sob um sol digital
que queima tudo onde passa,
provoca terramotos de desejo,
na enseada onde se aporta
onde se entrelaça.

Abre-se o caminho com as palavras mágicas proferidas,
e a língua é pena a riscar o papel,
a desenhar promessas,
a curar feridas.

Os amantes voam como pássaros,
navegam na deriva consentida,
sob a lua sorridente, enigmática.

O tempo não existe, o mundo grita,
sem lei no universo, tudo pára.

É quase dia, vamos navegar antes que chegue a aurora.

sábado, 8 de outubro de 2011

Beirut - Sunday Smile

A procura da luz

As plantas nascem na escuridão. Envoltas em terra, no subsolo de qualquer realidade, a semente sabe ao que vem.
O seu destino é, usando toda a sua energia, furar esse isolamento e triunfante descobrir a luz do sol que lhe proporcione mais energia para continuar a crescer, a lutar.
Cresce até se tornar vigorosa, sempre com a luz como combustível, e poder dar frutos que a perpetuem mesmo depois de morta. É esta a sua realidade, desde a escuridão, sabe ao que vem, e sabe, sobretudo, o seu destino. No fundo sabe que nasce para morrer e que no entretanto tem a missão de deixar as sementes para o futuro.
Nós somos humanos. Na escala evolucionária somos supostamente mais aptos, mais fortes, mais adaptados ao meio que nos rodeia. Consideramo-nos seres superiores e mais capazes.
Nada mais erróneo. Quantas vezes nos deitamos a duvidar, a questionar, a desesperar? O complexo não é necessariamente mais belo e não é garantidamente o mais apto.
A mim, bastar-me-ia sentir como uma planta, mas a única semelhança que vejo é que ambos nascemos, sabendo que vamos morrer. O meu entretanto é um mar de dúvidas e queria tanto saber procurar a luz e não apenas desejá-la.

O outono

Tarda em chegar o outono.
Sinto falta da chuva a bater nas janelas, a limpar as ruas e as árvores. Do vento a fazer as folhas dançarem a sua dança supostamente aleatória, do cheiro a castanhas assadas na rua.
Sinto falta do frio suave, que nos surpreende ao abrirmos a porta da rua, do silêncio das ruas quando chove.